As notas da pandemia no universo da música
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- 21 de mai. de 2020
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Assim como em outras esferas da economia, a COVID-19 impactou a indústria musical no Brasil e no mundo
por Julia Barduco

Em um momento em que o mundo todo tem seus olhos voltados para as notícias à respeito do COVID-19, é notável que a pandemia causada pelo novo coronavírus teve conseqüências de longo alcance na economia, gerando a maior recessão global da história. Nesse contexto, a indústria musical também sofreu um impacto significativo, refletindo a situação de outros setores relacionados às artes.
Ao redor de todo o planeta, shows, tours e festivais foram cancelados para prevenir a disseminação do vírus, visto que a quarentena e o distanciamento social foram atitudes recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um relatório publicado no início de abril, pela revista Pollstar, conhecida por obter informações a respeito de arrecadações no cenário musical norte-americano, expôs os possíveis prejuízos gerados pela pandemia à indústria de shows. Tal relatório afirma que as perdas poderiam chegar à 9 bilhões de dólares em 2020, um rombo sem precedentes na música moderna. De acordo com a revista,“[o impacto da COVID-19 é ainda maior], considerando que cada tour paga, ou ajuda a pagar, o salário de dezenas, senão centenas ou milhares de pessoas que trabalham em produção, marketing, segurança, bilheterias e mais”.
No Brasil, por sua vez, o DATA SIM, núcleo de pesquisa e organização de dados e informações sobre o mercado musical, afirmou que o prejuízo estimado no mercado do país é de cerca de 480 milhões de reais, tendo em vista que 8.141 eventos e um público de 8 milhões foram afetados pelas medidas de distanciamento social. Os insights dessa mesma pesquisa, afirmam que “grandes mudanças na indústria da música ocorrem como respostas às crises, como a chegada da internet e o surgimento das plataformas de streaming. É preciso que haja investimento para que a inovação possa despontar. O interesse do público pela música, ao vivo ou gravada, não irá arrefecer.”
Já os streamings apresentam números um pouco mais promissores. A plataforma Spotify, diz que ganhou seis milhões de assinantes no primeiro trimestre de 2020. Com esses números, a plataforma alcançou 130 milhões de assinantes pagos, apesar das preocupações iniciais sobre como a crise do COVID-19 poderia afetar os hábitos de escuta.
Há ainda, é claro, o fenômeno das lives, que estão se mostrando sucessos implacáveis no Brasil e no mundo. Grandes exemplos são Jorge e Mateus que arrecadaram 216 toneladas de alimento com 6 horas de live e Sandy e Junior e Marília Mendonça, que acumularam 1,8 milhões e 422 mil reais, respectivamente, todos convertidos para a luta contra o vírus. Já no cenário internacional, grandes eventos foram criados, tais como o Together at Home, organizado pela Lady Gaga com colaboração da OMS, que envolveu mais de 60 performances de artistas do cenário global, além de 94 participações especiais e arrecadou cerca de 127,9 milhões para fundos em prol da luta contra o COVID-19 e seu impacto.
Contudo, apesar dos artistas poderem usar a tecnologia e as mídias sociais como uma segunda opção para alcançar um público vasto, é muito mais difícil monetizar esse conteúdo. Os artistas, ao disponibilizarem conteúdos nessas mídias, dependem de doações, que não são realizadas pela maioria do público. Antes da pandemia, ao realizar shows pessoalmente, os ouvintes necessariamente pagavam para desfrutar do conteúdo que os artistas tinham a oferecer.
Por fim, a pergunta que fica é: uma vez que a vida voltar aos seus conformes, a indústria conseguirá voltar à sua normalidade ou estará mudada para sempre?
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