top of page

De baile ao MPB: como a IA tem transformado o funk e dominado as redes sociais

  • Foto do escritor: 4Estações
    4Estações
  • 16 de set.
  • 4 min de leitura

Músicas e artistas gerados artificialmente ganharam milhares de ouvintes nas plataformas de áudio


por Marcella Belizário e Túlio Daniel


Prática tem gerado discussão a respeito de direitos autorais e valorização de artistas |  Imagem: Gerada artificialmente pelo Gemini
Prática tem gerado discussão a respeito de direitos autorais e valorização de artistas |  Imagem: Gerada artificialmente pelo Gemini

Nas últimas semanas, as redes sociais, em especial o TikTok, têm sido alvo de uma trend que mistura nostalgia dos bailes, tecnologia e a estética “voz e violão”. Músicas transformadas por inteligência artificial, principalmente funks antigos, estão ganhando uma nova forma no estilo MPB suave e sentimental. Um dos casos mais populares envolve uma faixa lançada originalmente em 2016 do cantor MC 2K, que ganhou nova vida ao ser reinterpretada por IA.


A música surgiu no funk há alguns anos e circulava nas festas e paredões. Agora, com a ajuda da ferramenta, ela apareceu em versão acústica, com voz suave, melodia e uma proposta completamente diferente, quase melancólica. O hit foi publicado pelo canal Blow Records, especializado em “reimaginar’’ sucessos do funk como se fossem músicas dos anos 1980. A fusão  entre letra e melodia virou um fenômeno na plataforma e milhares de vídeos começaram a usar a faixa como diversão entre amigos e familiares que imaginam estar escutando de fato uma faixa de MPB. 


Esse remix tem chamado atenção. O que antes era batidão, agora virou “poesia” irônica. O humor vem justamente da contradição e da naturalidade com que a inteligência artificial consegue transformar ritmos populares em baladas com cara de MPB dos anos 80. A febre mostra como o TikTok é um espaço onde tendências musicais se recriam com frequência e o quanto a inteligência artificial está redefinindo os caminhos da música, permitindo misturas e colocando o algoritmo como um novo (e polêmico) produtor cultural. 


Engane-se quem acha que a tendência tem se limitado às redes sociais. DJs por todo o país têm levado as versões, agora divertidas, para as casas de festas e boates. Os próprios artistas estão incorporando as versões em IA nos repertórios dos seus shows. Um caso recente é o da cantora Pocah. Assim como aconteceu com o MC 2K, um funk de 2018 da cantora foi transformado no gênero MPB e a artista não deixou de apresentar a versão nos palcos.



A IA, no entanto, também tem sido utilizada como ferramenta de apoio à criação musical. Em um caso mais recente, Caetano Veloso e IZA fizeram uma regravação de “Divino Maravilhoso”, da Gal Costa, usando a IA do Google para implementar ritmos africanos à nova versão. Carla Bonato Marcolin, doutora em Administração e coordenadora do Laboratório de Inteligência Artificial Aplicada (LiA²) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), disse que a IA aprende diferentes padrões, mistura-os e os reproduz em um padrão novo, assim podendo reinventar gêneros tradicionais com sons contemporâneos, possibilitando até uma nova leitura do MPB.


Algumas IAs generativas são capazes de auxiliar na composição e produção de músicas, criando letras no estilo de grandes musicistas e até gerando arranjos inéditos com influências de músicas brasileiras, baseando-se em prompts gerados por usuários. André Campos, professor da Faculdade de Música da UFU, afirma que “ferramentas como ChatGPT, AIVA ou Jukedeck são uma evolução dos backing tracks, ou seja, uma forma mais atual de contribuir no processo de criação musical para pessoas que não possuem conhecimento instrumental, musical ou de produção”. 


O avanço das músicas feitas por inteligência artificial, tanto em plataformas de mídias quanto em produções profissionais em estúdio, mostra que estamos vivendo uma virada no modo de criar e consumir música. O que antes dependia de instrumentos, técnica e vivência, agora pode nascer em segundos a partir de um prompt. Entre a viralização e a inovação, o que fica claro é que a IA está mais do que presente, o público já consome músicas feitas por ela mesmo sem saber. 


A banda Velvet Sundown estourou recentemente nas plataformas digitais, atingindo 1 milhão ouvintes mensais no Spotify. O que muitos ouvintes não sabiam é que o grupo era composto totalmente por inteligência artificial. A novidade ganhou repercussão e grande visibilidade na mídia depois de surgir repentinamente em junho e figurar em playlists populares. Com as suspeitas de que as músicas fossem produzidas por inteligência artificial, a descrição na plataforma foi modificada: “The Velvet Sundown é um projeto musical sintético, conduzido por direção criativa humana e desenvolvido, interpretado e apresentado com apoio de inteligência artificial.”


Imagem de divulgação da banda Velvet Sundown, criada por IA | Imagem: Divulgação
Imagem de divulgação da banda Velvet Sundown, criada por IA | Imagem: Divulgação

E não para por aí. Versões que parodiam músicas já existentes também começaram a figurar no topo das paradas. Tocanna é uma cantora fictícia de sertanejo criada por IA e que atingiu a primeira posição da “Viral Brazil 50”, do Spotify. Com uma versão explícita de Empire State of Mind, de Jay-Z e Alicia Keys, a música São Paulo deixou o feed do TikTok e chegou nas plataformas de streaming.


Perfil de Tocanna no Instagram já atinge 190 mil seguidores | Imagem: Reprodução/Instagram
Perfil de Tocanna no Instagram já atinge 190 mil seguidores | Imagem: Reprodução/Instagram

A pergunta agora é: e a arte de criar, fica aonde? O que isso diz sobre o papel do artista? A revolução da IA na música está só começando e vai exigir mais do que bons prompts: vai exigir novas regras.


Comentários


Fale com a gente! Quer saber mais sobre o blog, sobre os posts ou sugerir algo? Mande um email que nós respondemos!

 

Email: musicaquatroestacoes@gmail.com

 

Siga a gente nas redes sociais e fique ligadinho nas nossas novidades! Você sabia que também estamos no Spotify? Confere lá!

 

  • Facebook - Círculo Branco
  • Instagram - White Circle
  • Twitter - Círculo Branco
  • LinkedIn - Círculo Branco

© 2025. Blog 4Estações

Layout: Túlio Daniel

bottom of page