É hoje: veja os indicados às categorias musicais do Oscar
- 4Estações
- 10 de mar. de 2024
- 7 min de leitura
‘Melhor Trilha Sonora Original’ e ‘Melhor Música Original’ são disputadas por filmes de peso, como ‘Oppenheimer’ e ‘Barbie’
Por João Pedro Peron
Hoje (10) acontece a 96ª edição do Oscar. A premiação contém duas categorias dedicadas aos artistas musicais: Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Música Original. Elas são formadas por cinco indicações cada, que necessitam ser compostas exclusivamente para filmes. Veja abaixo os concorrentes de cada categoria:
Melhor Trilha Sonora Original
Oppenheimer
Baseado no livro American Prometheus (2005), escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin, o filme conta a história de uma das maiores invenções já criadas: a bomba atômica, desde sua primeira concepção até as consequências dela.
A trilha sonora é composta por Ludwig Göranson, que já ganhou um Oscar nessa mesma categoria por Pantera Negra (2018). Quando o diretor e roteirista Christopher Nolan o chamou para trabalharem juntos nesse longa-metragem, o desejo do cineasta era que as melodias fossem baseadas no violino, para representar a ansiedade e solidão do protagonista ao realizar tal projeto. É possível observar isso na melodia Can You Hear The Music, que começa lenta e vai acelerando gradativamente, utilizando uma certa lógica matemática, assim como na física nuclear.
Göranson e sua esposa gravaram os violinos juntos e utilizaram sintetizadores para simular a sensação de perigo. Ademais, o músico conseguiu mesclar o lado pessoal do cientista, abordando todas as suas questões particulares com o mundo e pessoas ao seu redor, com toda a magnitude do projeto em que ele estava trabalhando. Nolan queria que todo o terceiro ato do longa fosse intenso e, portanto, pediu para o compositor escrever melodias como se fossem para um filme de ação, o que foi um desafio já que não foram utilizados instrumentos de percussão na trilha de Oppenheimer.
Ficção Americana
Baseado no romance Erasure (2001), escrito por Percival Everett, o filme conta a história de Monk, interpretado por Jeffrey Wright, um autor especialista em literatura afro-americana que tem suas obras rejeitadas por editoras, pois não as consideram “negras o suficiente”, enquanto vários livros estereotipados acabam vendendo milhões de cópias. Cansado dessa realidade, ele decide escrever um romance também estereotipado, como uma forma de protesto contra a indústria literária, mas acaba sendo aclamado.
A trilha calma e reconfortante foi criada pela compositora Laura Karpman, que recebe sua primeira indicação ao prêmio. A musicista não leu o roteiro do longa para compor e sim o livro no qual ele se baseia, e, desde o início, sabia que utilizaria bastante a linguagem do jazz. Conversando com o diretor e roteirista Cord Jefferson, estabeleceram inspirações no jazz clássico, mas que não estivesse puramente na obra e sim de forma modernizada, que conversasse com a trama do filme.
A compositora conta que sempre pensou nos diálogos do filme para sua composição, para que funcionassem de forma orgânica com a trilha, como se fizessem parte dela. Em momentos em que os personagens estão conflituosos, por exemplo, a trilha representa essa sensação ao combinar instrumentos em ritmos diferentes, ainda que fiquem harmônicos e dinâmicos.
Indiana Jones e o Chamado do Destino
O último filme da saga mostra Indiana Jones próximo de se aposentar e tentando se ajustar num mundo que parece tê-lo superado, mas, com a volta de um antigo rival, o arqueólogo deve sair em ação uma última vez para impedir que um artefato antigo não caia nas mãos erradas.
A trilha sonora é composta pelo lendário músico John Williams, que possui 54 indicações ao Oscar, sendo cinco destas vitoriosas. Neste filme, o compositor conta com o clássico tema presente no primeiro longa de 1981, mas com inovações e alterações que simbolizam o desfecho dessa saga de 42 anos.
Com personagens novos introduzidos, temas inéditos foram criados especialmente para eles, como no caso da Helena Shaw, interpretada pela Phoebe Waller-Bridge, tema que o compositor afirma que foi extremamente divertido e maravilhoso de compor. Esse é o único filme em que Steven Spielberg não dirige, apenas produz, e o cineasta enfatiza que todas as melodias que Williams escreveu para essa saga construíram uma identidade muito forte, que potencializa ainda mais tanto as cenas emotivas, quanto as de ação.
Pobres Criaturas
Baseado no romance publicado em 1992 e escrito pelo autor escocês Alasdair Gray, a trama consiste em um cirurgião, interpretado por Willem Dafoe, que encontra um corpo de uma mulher morta e, como uma forma de experimento, reanima a personagem, que passa a se chamar Bella. Entretanto, ela volta à vida com um cérebro de uma criança.
Essa é a primeira trilha sonora que o músico Jersin Fendrix compõe, além de ser o primeiro longa do diretor Yorgos Lanthimos com músicas originais. O musicista escreveu a maioria das melodias antes das filmagens começarem, tendo como base apenas o roteiro e as artes conceituais/cenários criados para o filme.
O compositor pensou nos sentimentos dos personagens, sobretudo nos da protagonista, para compor a trilha sonora, de modo que as músicas representam o ponto de vista dela descobrindo o mundo pela primeira vez. Os instrumentos imitam notas vocais, como se fossem criações próprias do cirurgião que conversam entre si e evoluem no decorrer da trama, assim como a Bella. Essa evolução é percebida pelos violinos, que no início estão fora do tom e um pouco ásperos até se tornarem elegantes, mas sem perder suas singularidades e “estranhezas”, assim como a protagonista.
Assassinos da Lua das Flores
O longa dirigido e co-escrito por Martin Scorsese é baseado no livro homônimo escrito por David Grann e publicado em 2017. A trama, passada na década de 1920, retrata a história dos misteriosos assassinatos do povo nativo-americano Osage, que viviam em uma terra com abundância de petróleo.
A trilha é composta por Robbie Robertson, que faleceu em agosto do ano passado, dois meses após o filme estrear nos Estados Unidos. Apesar de ser sua única indicação ao prêmio, o músico trabalhou em outros projetos com o cineasta e para esse longa ele quis incorporar as melodias tradicionais do povo Osage com alguns subgêneros, como “Country Blues”, “Post-Rock” e “Eletric Blues”. Foi um trabalho muito pessoal e importante para o compositor, pois sua mãe é indígena.
Segundo Scorsese, toda essa pessoalidade ajuda o filme a continuar seguindo em frente, especialmente nesse que contém diversos personagens e cenários durante 3h26min de filme. A trilha conseguiu trabalhar toda essa complexidade e deixar esses elementos ainda mais vivos.
Melhor Música Original
I’m Just Ken - Barbie
O filme escrito e dirigido por Greta Gerwig conta a história de Barbie e Ken, que precisam sair de Barbieland quando a boneca começa a ter alguns “defeitos” e comportamentos estranhos.
Composta por Andrew Wyatt e Mark Ronson, a canção, que ultrapassou 100 milhões de streamings no Spotify, aborda o antagonismo de Ken, que declama suas insatisfações durante a música e, assim como todo o tom do filme, é repleta de ironias. Os compositores ainda confirmam grandes inspirações no subgênero rock progressivo.
Mark Ronson relata desconhecer qual personagem ou Ken iria cantá-la no longa, mas assim que o ator Ryan Gosling escutou, desejou ser essa pessoa. Ademais, o próprio filme foi modificado para incluí-la, já que toda a sequência em que a música se passa não estava originalmente no roteiro.
What Was I Made For? - Barbie
A canção foi composta pelos irmãos Billie Eilish e Finneas O’Connell, que já ganharam um Oscar nessa mesma categoria em 2022, pela música No Time To Die, presente no longa 007: Sem Tempo para Morrer. A cantora conta que, ao compor What Was I Made For?, por mais que pensasse que a letra representasse apenas a protagonista do filme, meses após seu lançamento, percebeu que na verdade a música era sobre si mesma e diz exatamente o que ela estava sentindo.
Eilish também confessa ter sido extremamente difícil gravar essa música, pois escolheu cantar como se estivesse tentando não chorar, a mais difícil entre todas as possibilidades de performar essa canção e, consequentemente, um dos melhores vocais de sua carreira. Partes da melodia escrita pelos dois irmãos aparece em diversos momentos durante o longa por meio de uma orquestra. Ademais, os cantores adoram a sequência em que ela é tocada na íntegra, com uma montagem de vídeos de familiares do elenco e equipe que trabalharam no filme.
Wahzhazhe (A Song For My People) - Assassinos da Lua das Flores
A indicação da música de Scott George é histórica, pois é a primeira vez que uma pessoa indígena é indicada nessa categoria. Outro fator que torna essa indicação ainda mais especial, é o fato dele ser membro do povo Osage, presente no longa de Scorsese. A canção é cantada por membros Osage e foram utilizados instrumentos próprios desse povo. O músico queria que a melodia simbolizasse cura para sua comunidade, que ainda vive e segue em frente apesar do quão duro foi seu passado.
O cineasta queria que a música tocasse durante as danças cerimoniais tradicionais Osage, o que a comunidade não permitiu, visto que não gostam que tais costumes sejam gravados. Entretanto, conseguiu incluir algo muito próximo em seu longa com a ajuda e consulta de George. Sua canção encerra o filme e o compositor desafia o público a perceber as diferenças em todas as músicas indígenas presentes no longa, visto que todas têm identidades próprias e, apesar de possuírem similaridades, não há uma sequer igual à outra.
It Never Went Away - American Symphony
Dirigido por Matthew Heineman, este documentário retrata o músico Jon Batiste tentando compor uma sinfonia, enquanto sua esposa, a escritora Suleika Jaouad, passa por um tratamento de câncer.
A canção escrita por Batiste, ganhador do Oscar de Melhor Trilha Sonora Original em 2021, por Soul, e por Dan Wilson, possui uma qualidade intimista e pessoal muito forte, pois Batiste se inspirou em canções de ninar que compôs para sua esposa enquanto ela estava no hospital, para a ajudar a dormir melhor. A melodia surgiu nos sonhos do músico e ele queria que ela fosse tão conectada emocionalmente com o filme quanto nossos espíritos são com os nossos corpos.
The Fire Inside - Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou a História
Esse filme conta a história verídica de Richard Montañez, um zelador da Frito Lay que revolucionou a indústria alimentícia ao canalizar sua herança mexicana para transformar o Flamin’ Hot Cheetos de um lanche em um fenômeno da cultura pop global.
Esta é a 15ª indicação da compositora Diane Warren, sendo a sétima consecutiva. Segundo a musicista e a diretora Eva Longoria, apesar da música representar toda a essência do filme, ela vai muito além, pois conversa muito com a história de todo o povo latino. Warren conta que assim que assistiu ao filme, sabia como iria escrever a The Fire Inside, tendo como base o sentimento de inspiração que remete a esse fogo interno que todos nós possuímos e que serve de combustível para seguir os nossos sonhos e que ninguém pode apagar. A música é cantada pela cantora Becky G.
A premiação acontece a partir das 20h (horário de Brasília) e será transmitida pela TNT e Max. Todas as indicações a Melhor Música Original serão apresentadas ao vivo durante o evento. Para quem vai a sua torcida?
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