[Opinião] O ritual pop de Urias em Carranca
- Guilherme William

- 18 de set.
- 3 min de leitura
Cantora anunciou seu terceiro álbum, com lançamento previsto para outubro de 2025

Nascida em Uberlândia (MG), Urias começou a ganhar destaque em 2019 com músicas como Diaba e Dumb, e vem consolidando sua presença no pop brasileiro. Mulher trans, a artista tem utilizado sua arte para explorar representatividade, ancestralidade e memória, através de uma narrativa que alcança experiências pessoais e coletivas dentro de suas músicas e clipes.
Mesmo ainda não lançado, o teaser de Carranca tem pouco mais de dois minutos e apresenta de forma clara a linha conceitual do álbum. A figura da carranca, tradicionalmente usada nas embarcações para afastar o mal e proteger quem navega, funciona como símbolo central do projeto. Essa escolha indica uma ligação com proteção, resistência e cuidado com a própria trajetória de Urias. As imagens misturam máscaras, figuras híbridas que combinam humano e animal, referências ao mar e rituais com pó sagrado, ao mesmo tempo em que entidades como Iemanjá e Iansã aparecem reinterpretadas. A presença dessas figuras no teaser não se limita apenas ao visual, mas estabelece um diálogo com as práticas culturais e religiosas da artista, mostrando respeito às tradições.

O teaser também se aproxima de um curta de moda, com uma direção de fotografia impecável, figurinos assinados por grifes internacionais e atenção a cada detalhe. Essa composição visual reforça a narrativa do álbum, mostrando como a estética, cultura e identidade se conectam sem precisar de explicação explícita por parte da cantora. Cada escolha reforça a dimensão ritual, histórica e simbólica da obra, evidenciando a intenção de criar algo que não seja apenas uma música, mas uma experiência audiovisual completa.
O single Deus, música já lançada e disponível nas plataformas digitais, revela a direção sonora de Carranca. Produzido por Nave Beatz e Rodrigo Gorky, ele combina eletrônica com samples históricos, incluindo registros de cantos folclóricos negros de meados do século XX. O uso desses materiais conecta o presente com tradições que atravessam décadas, trazendo memória e referência cultural para a linguagem contemporânea da música pop. A colaboração de Urias com Criolo amplia esse diálogo, introduzindo elementos de crítica social e cultural, mas sem sobrepor a visão única da artista ou o conceito do álbum.

O conceito de Carranca mantém a atenção na ancestralidade e na memória cultural. Urias trabalha com essas referências que atravessam gerações e territórios, resgatando elementos do candomblé e de tradições africanas que raramente aparecem na música pop brasileira. O álbum cria um espaço onde passado e presente se encontram e a tradição e experimentação se interpolam.
Cada detalhe do teaser, do single e da equipe criativa mostra que Carranca foi planejado para ocupar múltiplos espaços. A escolha do nome, a direção visual e o uso de samples históricos indicam a intenção de aprofundar a linguagem artística da cantora, construindo um trabalho em que cada elemento contribui para um todo coeso. O álbum conecta a trajetória pessoal de Urias, tradição cultural e identidade, criando uma experiência em que imagem, som e simbologia se relacionam de forma consistente e clara.
Carranca tem lançamento previsto para outubro de 2025, em todas as plataformas digitais. O álbum marca a terceira fase da discografia de Urias e confirma a artista como um dos principais nomes do pop brasileiro atual.
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