[Opinião] Por onde anda a música pop brasileira?
- Josias Ribeiro
- 13 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Entenda o que aconteceu com o gênero que não está mais presente nas paradas das mais ouvidas do Spotify

O que aconteceu com o pop nacional que o fez evaporar do ranking das músicas mais tocadas no país? Esse foi um questionamento que surgiu ao observar o Top 50 Brasil do Spotify, um dos principais rankings nacionais. Anitta, Jão, Ludmilla, Pabllo Vittar? Não, o top está dominado por sertanejo, trap e funk.
Se fosse alguns anos atrás, teríamos o pop dominando a parada de músicas mais tocadas. Deixa Ele Sofrer, música de Anitta do álbum Bang, foi a primeira canção nacional a chegar ao topo da parada brasileira, que antes era dominada por músicas internacionais. Não precisa ir tão longe, até pouco tempo tínhamos Anitta, Jão, Ludmilla e Luísa Sonza simultaneamente na parada, mas é possível observar que, após a popularização da plataforma, o número de músicas sertanejas e de funk começaram a ser as mais consumidas, além da ascensão do trap nacional.
Ranking do Top 50 Spotify Brasil atualmente, baseado nos gêneros musicais:
Sertanejo: 27 músicas
Funk: 10 músicas
Trap: 7 músicas
Pop: 2 músicas
Outros: 4 músicas
No Brasil, há pouca força nas paradas de gêneros musicais que não sejam os citados. MPB, rock e axé, por exemplo, dificilmente conseguem entrar nas músicas mais tocadas. Este último ainda consegue bastante evidência no Carnaval, mas logo some. Atualmente, apenas Juliette e Melody representam o gênero pop no Top 50 das mais tocadas. Anitta, Olivia Rodrigo e Taylor Swift completam o grupo com canções no Top 100.
O que pode ter causado tanto distanciamento do ouvinte da música pop nacional, mesmo o gênero tendo grandes nomes com materiais inéditos sendo lançados? Será que ainda conseguirá reviver nas paradas?
Abaixo, alguns pontos que podem ter colaborado com o distanciamento:
Qualidade
Um dos pontos que mais chama a atenção na música pop, independente do artista, é a qualidade da canção. Ultimamente, vemos no país uma onda de negação aos lançamentos pop dos nossos artistas.
Ludmilla lançou, neste ano, seu quinto álbum de estúdio, Vilã, mas o que permanece nas playlists dos ouvintes são seus hits de pagode. Pabllo Vittar também lançou um álbum e foram poucos os comentários, com a maioria criticando o trabalho. Pedro Sampaio lançou alguns singles, mas nenhum “vingou”. Marina Sena lançou Vício Inerente, seu segundo álbum de estúdio, que também não teve tanto destaque fora da bolha quanto o primeiro, e a lista continua com uma infinidade de lançamentos que não estouraram.
Apesar de conseguir uma boa estreia quando lançados, as músicas não conseguem estabilidade e logo desaparecem. É perceptível a falta de um material consistente que cative o ouvinte por um longo período.
Inovação
Quando se fala em música pop, logo vem à mente nomes como Beyoncé, Lady Gaga, Madonna, Michael Jackson e seus trabalhos atemporais que continuam relevantes nas pautas sociais. No Brasil, vemos a carência de inovação e ousadia dos nossos artistas, que mantêm seus trabalhos em uma zona de segurança.
Por exemplo, o Doce 22, da Luísa Sonza, conseguiu se tornar duradouro devido à consistência e criatividade da artista em apresentar um conceito pessoal, abordando tudo o que aconteceu em sua vida pessoal, como sua relação com Whindersson Nunes. Vai Malandra, de Anitta, continua sendo uma música memorável da cultura pop nacional devido ao seu impacto e os bastidores de sua produção, como o embate da artista contra o projeto de lei que tinha como foco a criminalização do funk, logo na capa do single.
Beyoncé, por exemplo, mesmo consolidada, continua em busca de inovação em seus lançamentos, seja lançando um álbum visual ou lançando um álbum sem visuais, como é o caso de Renaissance.
Internacionalização
Outro ponto que chama bastante atenção para esse fenômeno é a internacionalização que vem ocorrendo com os grandes nomes da música pop nacional. Anitta, Ludmilla, Pabllo Vittar e Luísa Sonza são exemplos disso. Mas basta olhar a parada nacional para entender que o brasileiro não consome com tanto fervor músicas que não sejam em português.
Nicho
Apesar de não termos essa representatividade pop nas paradas, todos os nomes citados vêm mostrando sua força quando o assunto é ter shows lotados. No entanto, ao observar, vemos que é um público segmentado, como Ludmilla esgotando todos os seus shows de “pagode” e Anitta com os “ensaios de carnaval”.
De certa forma, vemos que esses pontos só reforçam que os artistas citados não sentem tanto mais a pressão de conseguir novos hits devido à consolidação no mercado, mas isso seria algo positivo para os novos nomes que estão surgindo? O que parece é que a porta que foi aberta por Anitta e Ludmilla no início da década passada está sendo fechada aos poucos, com poucos nomes conseguindo destaque, como é o caso de Marina Sena e Jão.
A partir disso, retomo o questionamento: Será que a música pop irá conseguir reviver na lista das músicas mais tocadas do país? A resposta é clara: Se continuarmos nesse ritmo, nunca!
As opiniões expressas pelos autores pertencem a eles e não refletem necessariamente a opinião do 4Estações.
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