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Remix: das Teorias da Comunicação aos desafios do TikTok

  • Foto do escritor: Túlio Daniel
    Túlio Daniel
  • 17 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

Como a mixagem cria um novo jeito de se fazer música na atualidade


A remixagem é um termo comum atualmente, e tem quem ache melhor escutar músicas que sofreram algum tipo de transformação. Todavia, esse jeito de se fazer música não é nada atual e surgiu nos anos 70, quando produtores e DJ's descobriram que era possível mexer em uma música após ela ter sido gravada. Claro que isso se tornou mais fácil com os avanços tecnológicos e abriu um leque de possibilidades, onde a criatividade não tem limites.


Mas, engana-se quem acha que o remix é algo exclusivo do meio musical. Ele é um estilo bem mais brando, também conhecido como Cultura do Remix. Esse termo foi criado nas Teorias da Comunicação, e representa uma sociedade que compartilha, edita e transforma obras que já foram criadas anteriormente. Além disso, a cultura do remix está diretamente ligada à cibercultura, que de acordo com o teórico Pierry Lévy em seu livro Cibercultura, cria mundos virtuais que "podem eventualmente ser enriquecidos e percorridos coletivamente, tornando-se, nesse caso, um lugar de encontro e um meio de comunicação entre seus participantes". Assim, os remixes estão presentes em filmes, paródias, grafites, fan fictions, jogos e até em textos comuns, em que você percebe a menção ou referência a algo, e acaba tendo a sensação de "já ter visto isso antes".


No mundo da música há quem faz isso de forma profissional, em suas próprias obras, e quem faz por pura diversão. Vários artistas acabam por lançar diferentes versões de suas próprias músicas após ter conseguido sucesso com a original. Assim, ele consegue se recriar e atingir diferentes públicos apenas adaptando um conteúdo já lançado. Um exemplo recente é o do cantor e DJ Pedro Sampaio, que no mês passado lançou o EP REMIXES!, contendo apenas músicas suas em versões remixadas.


Memes que dominam a internet


Hoje a principal diversão da internet, sem dúvidas, são os memes. Essa forma divertida de fazer piada e que viraliza nas redes sociais, também acaba se tornando música e ganhando sua versão remix. Um dos vídeos mais famosos e que acaba sendo usado em muitas festas é o de Shake It Bololo. A música traz a batida de Shake It Off, da Taylor Swift, mas usa nos vocais músicas "clássicas" do funk brasileiro, que combinadas com alguns memes, torna o vídeo único e que já atinge quase 18 milhões de visualizações no YouTube.



Em 2014 entrou no ar o canal Timbu Fun, criado por Eliel Robles e Riciere Nascimento, também criadores do Timbu Estúdio. Os músicos trabalham gravando discos de artistas, jingles publicitários e trilhas sonoras, e foram um dos primeiros a criarem um canal que trabalha exclusivamente com remix de memes. "Nossa proposta não é mexer com músicas produzidas, mas sim produzir músicas a partir de memes ou vídeos que causem interesse em nós. Alguns vídeos não nos fazem rir, mas gostamos de remixar porque pensamos que é uma forma de fazermos algumas críticas de uma maneira bem humorada", conta Eliel. O primeiro vídeo deles foi o "Menino José - Tô Cagado de Fome", que já bateu mais de 3 milhões de visualizações.



Outros vídeos que fazem bastante sucesso no canal deles são os de cunho político. Muitas falas da ex-presidente Dilma Rousseff viralizaram nas redes sociais, e dali surgiram novos remixes que logo caíram no gosto popular. Um dos vídeos criados pelo Timbu Fun já ultrapassa 10 milhões de visualizações. "Quando a Dilma disse 'Eu Tô Saudando a Mandioca', minha reação foi de criar o remix imediatamente, foi bem instintivo, ou seja, não planejamos criar remixes de política, simplesmente o tema apareceu e a gente abraçou", explica Eliel, que possui um pensamento positivo em relação a mixagem: "Eu acho sensacional que essa popularização esteja acontecendo, porque mais gente tem a oportunidade de mostrar seu talento musical. E a internet está aí pra cumprir a sua parte. O remix nesse formato é algo poderoso, é uma forma de arte que ultrapassa a barreira do humor e que é muito eficaz".



A recriação de músicas infantis


Se os memes ganharam suas versões remixadas, as músicas comuns da nossa infância também não ficariam de fora. Igor Matheus é um DJ de 19 anos, natural de Capiviri-SP, e viu nas músicas infantis uma forma de conquistar a galera mais jovem, Dono do canal Popai, no YouTube, o DJ estourou em 2016 com a versão funk de Dirigindo Meu Carro, da Xuxa. O remix de Uni Duni Tê, música clássica do Trem da Alegria, já ultrapassa a marca de 26 milhões de visualizações na plataforma.



A ideia de Igor foi uma forma inovadora de conquistar os internautas. "Quando eu comecei a fazer os remixes, era algo que estava começando a ter um reconhecimento. Eu vi que a maioria só queria fazer remixes de músicas novas, isso aumentava as chances de eu fazer um remix que alguém já havia feito. Foi aí que eu tive a ideia de fazer remixes de músicas antigas que fizeram parte da minha infância", conta o DJ. Não tem quem não tenha dançado ou ouvido a versão funk da abertura de O Clube das Winx em 2017.



A era do TikTok


O TikTok viralizou nesse período de isolamento social com sua praticidade e dinamicidade em fazer vídeos. Porém, a rede social se tornou uma máquina de fazer hits, com as famosas "dancinhas" e "desafios". O ponto de virada foi Old Town Road, de Lil Nas X, em 2018. A música que se tornou um desafio na plataforma alcançou o primeiro lugar no ranking de músicas mais ouvidas dos Estados Unidos naquela semana. No Brasil, não foi diferente, o mesmo aconteceu com Tudo Ok, de Thiaguinho MT, Mila e JS O Mão de Ouro, que dominou os challenges de maquiagem.


Com tanto sucesso, claro que os artistas não deixariam de investir na rede social. O nova música de Anitta em parceria com MC Zaac, Desce Pro Play, trouxe o refrão chiclete "papapa" com uma coreografia típica da plataforma em seu clipe oficial. E ainda existem artistas que vão além, como a cantora Aya, que lançou um clipe exclusivo no TikTok. O vídeo de apenas um minuto foi filmado na vertical, formato próprio da rede social.


E claro que os remixes não estariam de fora da plataforma. A versão funk de várias músicas tem ganhado bastante repercussão no TikTok, graças as famosas trends, que são tendências ou modelos de vídeos a serem feitos. O funknejo tem ganhado espaço no mercado, em que os próprios cantores sertanejos têm acrescentado batidas em suas músicas, ou fazendo parcerias com cantores de funk. Mas, os remix acabam agradando ainda mais os internautas. A versão funk de Na Conta Da Loucura, música original de Bruno & Marrone, e remixada pelo DJ Lucas Beat, ganhou tanta repercussão nos últimos dias, que o próprio cantor Bruno postou um vídeo dançando a versão.



Matheus Carboni Paes tem 19 anos e mora em Jundiaí-SP. Criador do canal Mathuga Beats, o rapaz viu sua conta crescer no número de inscritos após seu remix de Watermelon Sugar, de Harry Styles, estourar no TikTok. Influenciado por seu pai que é DJ, Matheus usou do seu tempo livre durante o período de isolamento social para aprender a usar programas de edição. "Eu comecei a fazer [remixes] como um hobby mesmo, sempre gostei muito de editar, porém nunca me aprofundei com música, e agora estou tendo a oportunidade", conta Matheus. O youtuber faz produções apenas para a internet, mas pretende trabalhar com remixagem futuramente.



Sua versão funk da música de Harry já atingiu 1 milhão de visualizações no YouTube, e tornou fundo para vídeos inclusive de pessoas famosas. "Foi minha namorada quem deu a ideia de fazer esse remix, ela é muito fã do Harry e me mandou a música para ver como ficava em um remix funk. Eu jamais poderia imaginar essa repercussão toda que gerou no TikTok, chegando até mesmo na Kéfera, ou na Gabi que participou do BBB", explica. A rede social acaba divulgando o remix de Matheus, pois faz as pessoas irem até seu canal do Youtube para escutarem a música completa.


Um problema dos remixes, é que feitos sem autorização dos criadores, acabam não gerando monetização por causa dos direitos autorais. Por isso, uma solução seria como o pessoal do Timbu Fun faz, criar sua própria música.


"Eu penso que os remixes são uma forma de tributo à música original. Creio que é uma forma de reverenciar o trabalho original. Não só isso, como também dar um novo ar à música, fazendo chegar num público alvo no qual não foi destinado" - Matheus Paes

Seja feito pelos cantores originais, através de memes, ou em suas versões funk, os remixes dominaram o cenário musical e trouxeram o jeitinho brasileiro para adaptar e recriar as canções, e sem sombra de dúvidas, é algo que deu muito certo.


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