[Resenha] Karol Conká: A pessoa por trás da “vilã”
- Péricles Hortênsio
- 7 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de out. de 2022
Nova série do Globoplay questiona proporções do ódio generalizado contra cantora
Na última quinta (29) foi disponibilizado no Globoplay, a série documental da cantora, rapper e compositora Karol Conká, A Vida Depois do Tombo. Após uma passagem conturbada no reality show Big Brother Brasil, marcada por falas e atitudes problemáticas, Karol foi o epicentro de um movimento de ódio nacional, que culminou em sua eliminação do programa por voto popular em uma rejeição histórica de 99,17%, com direito a recorde de audiência e comemorações com fogos de artifício ao redor do país.
A série documental foi dirigida por Patrícia Carvalho e Patrícia Cupello, e foi dividida em quatro episódios que contam desde o início da carreira de Karol, mostrando os desafios que a rapper precisou enfrentar para alavancar sua carreira a um nível nacional, até sua trajetória e atitudes dentro do Big Brother, além de momentos da sua nova rotina pós-eliminação. A narrativa apresentada ao longo da obra é de redenção da imagem pública de Karol, não através da “passada de pano”, mas sim com a artista reconhecendo os seus erros, assumindo-os e mostrando disposição para corrigi-los. “Eu entendi que estava errada, e senti um arrependimento. Mas as pessoas acham que para demonstrar arrependimento, nós precisamos aparecer definhando em frente às câmeras, chorando, implorando, usando roupas simples e sem maquiagem, para aí convencer o povo de que eu estou arrependida”, declarou a rapper no início da série.
Ao longo do documentário, o telespectador acompanha os primeiros dias de Karol após a sua eliminação no reality, dominados pelo pavor de ser agredida em aeroportos e restaurantes, bem como os bastidores das suas aparições em alguns programas da Rede Globo, como o Domingão do Faustão, onde ela recebe conselhos e direcionamentos de sua assessoria. Os episódios são marcados também por entrevistas de pessoas próximas à artista, tais como sua família - mãe, filho e ex-namorado, vítimas de ataques nas redes sociais -; o presidente da gravadora Sony, que manteve o contrato firmado com a artista; e sua advogada. Karol tenta também um diálogo com os participantes do reality com quem teve atritos, como Arcrebiano e Carla Diaz, que não aceitaram participar do documentário; Lucas Penteado, que gravou um vídeo à distância; e Lumena, sua parceira no jogo e a única que aceitou um encontro presencialmente com a rapper.
Com uma narrativa simples e direta, Karol nos dá detalhes de sua vida e carreira, como sua relação com o ex-namorado e o nascimento de seu filho; seu amor pelo rap; e a batalha judicial pelos direitos musicais que ela trava contra os produtores de seu álbum de estreia Batuk Freak. A artista também conta, em detalhes, episódios de sua vida marcados por racismo e discriminação que a levaram a criar essa persona empoderada com músicas sobre superação. Vale destacar também, a relação e todos os problemas que ela e sua família tiveram que lidar por conta do vício em álcool que seu pai mantinha antes de seu falecimento. Todas essas narrativas foram apresentadas com o intuito de levar o telespectador a entender a jornada da artista e saber quais foram os fatores que a levaram a agir de uma maneira agressiva e defensiva no reality show.
O documentário não parece ter sido feito para transformar os haters de Karol em adoradores, e muito menos para apagar seus erros, mas sim mostrar o ser humano que foi o alvo de todo aquele ódio pós-reality, suas facetas e sua história. Chega a ser irônico relembrar o “cancelamento” sofrido pela artista, em uma edição do programa que começou com discursos dos participantes contra esse tipo de ato, com direito inclusive a matéria especial no Fantástico. Fato é, que Karol não foi a única participante a cometer erros dentro do show, contudo, foi a única que recebeu um tratamento de linchamento por parte do público, até mesmo após sua saída do programa. No documentário, inclusive, são mostradas cenas de pessoas aglomeradas comemorando sua eliminação, sob gritos contendo ofensas raciais e morais.
A Vida Depois do Tombo chega a ser cruel em determinados pontos, forçando Karol a rever suas cenas de animosidade dentro do programa e ter uma atitude frente a elas. Todavia, o documentário faz um enorme favor para sua imagem pública, apresentando ao telespectador sua versão antes e durante o reality, e convidando-o para conhecê-la após. A obra se tornou o programa mais visto da Globoplay em um único dia, provando que ainda existem pessoas que querem conhecê-la e estão dispostas a isso. Parte de sua nova canção, Dilúvio, é apresentada no final do último episódio, e já foi lançada na última terça (04) durante a final do Big Brother Brasil, mostrando que assim como o público, Karol Conká está pronta para um novo episódio em sua trajetória.
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