[Crônica] Um violino no outono
- 28 de nov. de 2019
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Era de manhã, levantei-me da cama enquanto abria a janela. Do meu quarto eu tinha acesso ao lado de fora de casa, onde o céu estava nublado e meio cinza enquanto as folhas despencavam das árvores.
Eu particularmente gosto do outono. Quando era criança, eu e minha avó gostávamos de remover as folhas secas do quintal e fazer uma pilha bem grande com elas, e assim, pisávamos em cima para projetar alguns barulhinhos. A noite, minha avó fazia um chocolate quente com biscoitos, e enquanto ouvíamos a chuva do lado de fora, uma outra música era colocada para tocar.
Vovó gostava de cantar junto ao dueto da música “Pela luz dos olhos teus”, era a música favorita dela.
Certo dia, tomei meu café da manhã e resolvi sair um pouco para caminhar. Passando pela rua, ouvi o som de um violino que vinha próximo da cafeteria da esquina. O som era a da música favorita de minha avó. Me aproximei e vi um garoto de mais ou menos 1,70 de altura com os olhos fechados apreciando o som que saia do instrumento.
Me aproximei e comecei a cantar junto a melodia.
“Quando a luz dos olhos meus, e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar. Ai, que bom que isso é meus Deus. Que frio que me dá o encontro desse olhar”. O garoto logo abriu os olhos e parou de tocar olhando para mim sem reação, logo depois me lançou um sorriso dizendo:
- Você gosta dessa música?
- Eu adoro, é a música da minha avó, por favor, continue tocando! - Falei sorrindo.
O garoto posicionou os seus dedos pelas cordas do violino e ajeitou sua cabeça na queixeira, continuando a tocar. Fiquei ali observando por alguns momentos até que ele terminasse a música, seus olhos cinzentos como o céu daquela manhã pararam em mim e então ele disse:
- Gostou?
- Bravo! - Digo eu aplaudindo.
O rapaz sorriu e apenas disse:
- Também é minha música favorita, Tom Jobim estava inspirado quando escreveu.
- Sim, minha avó sabe ela de cor.
- Preciso ir, obrigado por ser minha única plateia hoje, geralmente aqui fica mais cheio, mas hoje, não sei o que aconteceu, não veio ninguém prestigiar uma boa música.
- Você toca sempre aqui?
- Não, só as vezes, alguns casais de velhinhos ficam sentados nos bancos me ouvindo tocar, acredito que estas músicas causam nostalgia neles, isso me dá prazer, vê-los sorrir um pouco. - Ele disse saindo após guardar seu violino.
Fui embora sorrindo, e quando cheguei em casa, acabei me dando conta que não perguntei o seu nome. Mas acho que entendi o sentido dessa música agora, ela descreveu bem o que senti quando meus olhos se encontraram com os deles, e quando meus ouvidos sentiram as notas que saiam do violino. Violino esse que marcara meu outono.
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