[Opinião] A democracia dos sons
- Betina Scaramussa
- 10 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de abr. de 2021
Servindo de remédio ou comemoração, a música está presente em todas as fases da vida. Além disso, as composições são para todas as idades, classes e etnias. Seria ela, livre da discriminação social? Quem dera. Há quem critique o gosto musical. Isso porque, na teoria daqueles que escutam, gostar de determinado som é certo ou errado. Será mesmo? Em uma nação pluricultural, com 26 estados e mais um distrito federal, ainda temos tempo para querer classificar aquilo que é bom ou ruim?
Para especialistas e musicistas, a música é o instrumento de estudo e análise. Cada um desses profissionais, refletem o papel que o som exerce na vida de todos nós. Ótimo! Por meio deles, conseguimos aprender um pouco mais sobre a música. Porém, existe um outro lado que as pessoas insistem em seguir: o do preconceito musical.
MPB, Rock, Funk, Rap, Sertanejo, Religiosa, Pop, Internacional. Entre tantos outros, os tipos de músicas são expressões de manifestações culturais. Discriminar algum desses tipos é violar a liberdade de expressão, direito básico da Constituição de 1988.
A discriminação ocorre quando classifico a música difamando a composição e imagem do artista. Você pode gostar, escutar e conversar sobre música. Contudo, é preconceituoso quando se pauta críticas musicais inferiorizando o artista e a sua composição. Normalmente, classifica-se aquilo como ruim porque não se escuta.
Ademais, o fato de ter padrões para os estilos musicais interferem na maneira que eu olho a música. Os estereótipos criados para classificar alguém que escuta algo reforça o preconceito musical. Ao rotular uma pessoa que escuta Funk, categoriza-se aquilo como algo ruim, por exemplo. Simplificar e tipificar os papéis de importância social que a música tem é manter o padrão de discriminação presente no território brasileiro.
O historiador e professor Leandro Karnal disse em seu programa na CNN Brasil que ao criticar e classificar uma música, ignora-se a circularidade cultural. Karnal ainda afirmou, no programa que em uma das edições trouxe o tema para debate, que a música é uma forte expressão cultural e social.
De acordo com ele, uma parte importante que a música traz para a história é a visibilidade. Conhecer a realidade dos outros pela música é possível ao identificar os elementos e temáticas que a canção traz. Foi assim na MPB no período da ditadura militar e é assim nas canções de artistas que vivem em situações de vulnerabilidade social.
A visibilidade propõe a construção de uma identidade. Ao se ver representado naquela canção é possível quebrar barreiras sociais. Por meio do ritmo, harmonia e voz, pode-se visualizar cada representatividade social. As barreiras que existem ainda em tantos setores no país, podem ser debatidas com a música. Olhar o mundo por meio da música, é possibilitar uma nova discussão sobre a importância das canções para a vivência em sociedade.
O Brasil tem a graça de sempre na sua história ter a música como forma de inclusão social. Você pode até não gostar de algo, é direito seu. Agora, não se pode negar o poder e a influência que qualquer música pode causar. Viva Caetano, Anitta, Luan Santana, Beethoven, Pixinguinha, Freddie Mercury, Ivete Sangalo, Luiz Gonzaga e tantos outros que surgiram e irão surgir para aquecer e alegrar.
As opiniões expressas pelos autores pertencem a eles e não refletem necessariamente a opinião do 4 Estações.
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