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[Opinião] Por que o EP de pagode da Ludmilla é tão necessário?

  • Foto do escritor: 4Estações
    4Estações
  • 6 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de nov. de 2020

por Juan Madeira


Numanice é o segundo EP lançado por Ludmilla. Desde seu lançamento em 24 de abril deste ano, já o ouvi dezenas de vezes e isso me levou a falar um pouco sobre ele e sobre os motivos pelos quais ele é tão importante, e mais que isso, necessário.


Primeiramente, ele é necessário porque exalta a liberdade. Nas músicas românticas que compõem o EP, Ludmilla canta para uma mulher, para a sua mulher, a dançarina Brunna Gonçalves. Logo depois do lançamento, vi no meu twitter várias amigas se sentindo muito representadas pelo som da Lud. A representatividade que a cantora traz no seu trabalho é real, sincera e provavelmente involuntária. Os LGBT's precisam de músicas cantadas pelos seus e para os seus. Digo isso porque o cenário musical, principalmente com artistas de muito sucesso, é, atualmente, acometido por um enorme problema: a bandeira LGBT sendo levantada apenas como uma oportunidade mercadológica. Os artistas usam dessa bandeira como um produto, ganhando em cima do conhecido “pink money”. Já vimos vários artistas brasileiros se escorando na comunidade para lucrar com suas músicas.


No aniversário de Ludmilla, há algumas semanas atrás, Brunna, sua mulher, postou no Instagram uma foto com uma legenda curta mas emocionante. "Que alívio poder te dar o primeiro parabéns sem falar que você é minha ‘irmã mais nova’. Que alívio poder te desejar tudo que eu sinto sem medo dos julgamentos, que alivio ser livre ao seu lado”, falava a mensagem. Deste modo, Ludmilla, como uma das artistas mais populares do Brasil, lança um EP necessário, que representa e pede liberdade, assim como ela fez em entrevista ao Jornal Nexo há poucos dias, quando afirmou que qualquer meio artístico de expressão pode promover debates, mudanças e fazer a diferença.


O samba, um ritmo negro e de resistência, promove debates e mudanças desde Cartola, cantando seu partido alto; A Imperatriz, pedindo liberdade e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz; Criolo, afirmando que meninos mimados não podem reger uma nação; ou até mesmo quando a Mangueira foi para a avenida neste ano, com um samba-enredo exaltando a liberdade, num cenário político que tenta a dizimar. Com Ludmilla, não é diferente. Uma mulher negra, casada com outra mulher, vem cantar em nome do amor, da liberdade, o que é uma afronta, uma resistência ao conservadorismo. Mas ela faz de forma leve, sutil e confortável.


O samba é um lugar essencialmente masculino. Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a assinar sambas, em especial samba-enredos. Ela demorou anos para conquistar seu lugar, já que as mulheres não eram permitidas nas rodas de compositores. Dona Ivone, Jovelina Pérola Negra, e a mais antiga Clementina de Jesus, abriram espaço para diversas outras rainhas: Clara Nunes, Beth Carvalho, Leci Brandão, entre outras que cantaram pela liberdade, pelo povo negro, pelas minorias em geral e pelo samba. Lud vem relembrar esses nomes e cantar pela liberdade, pelos LGBT's, pelas mulheres e pelos negros.


Trazendo para o dia de hoje, o pagode estrelado por Thiaguinho, Dilsinho, Ferrugem, entre outros, não dá espaço para mulheres, assim como o samba não deu para Dona Ivone Lara. A música precisa de mulheres. Acredito que além de pedir por liberdade, Lud vem abrindo um espaço para as novas pagodeiras e sambistas no mercado comercial. Quando uma das artistas mais populares do Brasil lança um álbum com raízes sambistas, muita gente se encontra ali.


Talvez por isso tanta gente tenha se identificado com esse trabalho, porque o que precisamos é ser representados. As pessoas precisam ser e se sentir representadas. Sei que isso é óbvio, mas o óbvio também precisa ser falado.


Juan Madeira é estudante de Jornalismo, e está com um novo projeto em que narra seus textos em vídeos para seu canal do YouTube! Abaixo está este texto em sua versão de vídeo. Não deixe de seguir Juan nas redes sociais e no seu canal!




As opiniões expressas pelos autores pertencem a eles e não refletem necessariamente a opinião do 4 Estações

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